Vagas – Essa palavra é fundamental quando se decide estudar em uma universidade pública. Em muitas universidades latino-americanas, ingressar no curso desejado não depende apenas dos exames de admissão, mas da quantidade de vagas oferecidas por cada universidade.
Essa concorrência exacerbada em muitos casos dificulta a entrada de pessoas que realmente desejam cursar cursos concorridos como Medicina ou Engenharia.
Entretanto, uma das peculiaridades - para não dizer “facilidades” - de ingresso em algumas universidades públicas argentinas é a não existência de limite de vagas.
Então você deve estar se perguntando: “Então não existe limite de vagas?" Não existe! Porém vamos explicar como funciona tudo isso. Apesar de parecer simples, o processo é um pouco mais complexo do que se imagina.
CONFIRA A ENTREVISTA COM ALFREDO BUZZI
Em 2012, Alfredo Buzzi, decano (professor mais antigo) de Medicina da Universidade de Buenos Aires (UBA) deu uma entrevista ao jornal LA VOZ, em que disse o seguinte:
“Com cerca de 30.000 estudantes no total (15.000 em Medicina e um número semelhante nas outras seis carreiras de Ciências da Saúde), essa unidade acadêmica é, entre seus pares, a que concentra mais estudantes no país. E também a que forma o maior número de médicos em toda a Argentina: a cada ano, cerca de 1.500 profissionais se formam lá…”
26 anos após a implementação do Ciclo Básico Comum (CBC) na UBA, que avaliação eles fazem? (Em 2020 completam-se 33 anos de criação do CBC).
– Antes de tudo, em Buenos Aires a palavra VAGA é tabu, é um termo que agita emoções muito violentas, que foi excluído da discussão e substituído pelo CBC, voltado para carreiras biológicas, com Química, disciplinas de Física e treinamento científico.
E é um ciclo que foi realizado não apenas como preparação para a Medicina, mas para corresponder às diferenças notáveis que existem entre os bacharelados. Também fornece um ano para que os alunos percebam se realmente querem estudar medicina ou outras carreiras na área. Eu acho que já foi provado que o CBC é um instrumento útil.
Mas, embora não haja vaga, também limitou-se o número de estudantes.
– Sim, foi limitado algo com respeito ao ingresso de alunos. Se voltarmos, por exemplo, para os anos de 1974 ou 1975, quando não havia limitação (bastava fazer a matrícula) havia um número de 15 ou 20 mil estudantes entrando nos cursos naquele momento.
Hoje temos um número de cinco mil. Além disso, esse número é reduzido posteriormente, porque os sujeitos do ciclo biomédico são complexos, e, nesse estágio, muitos estudantes percebem que não podem continuar e desistem ou são encaminhados para outras carreiras na área. Em outras palavras, a seleção é feita dentro da faculdade.
Dos cinco mil que entram, quantos se formam por ano?
– Cerca de 1.500.
É bom que essa triagem aconteça durante o curso?
– É criticável em alguns aspectos, mas também é louvável que uma pessoa não jogue o seu destino em um vestibular, mas tenha três anos para provar se é ou não um sério candidato a ser médico ou não. E isso nos permite avaliar não apenas a aptidão intelectual, mas também algo fundamental na Medicina, que é a vocação de serviço e o caráter de compaixão.
O que você acha de uma eventual redução da carreira médica para facilitar a formação da Pós-Graduação, hoje inevitável?
– Na UBA, um curso dura um total de oito anos, se você contar o ano do CBC, o curso e a prática final obrigatória, que é essencial porque o médico precisa ter um treinamento prático. É um dos mais longos. Mas, ao mesmo tempo, isso também atua como um impedimento, porque é uma prova de perseverança e dedicação ao estudo, e a Medicina é uma profissão que requer estudo ao longo da vida. Além disso, isso poderia acontecer se tivéssemos um Ensino Superior com um bom nível em Química, Física e Biologia. Mas nossa realidade é que, em vez de melhorar, o nível diminuiu.
Embora seja claro que existem diferenças regionais, você acha que os médicos são bem remunerados?
– Depende da preparação dos profissionais. Quem pode fazer uma Pós-Graduação obtém uma boa remuneração e pode evoluir. Quem está na ambulância e faz plantão, não sai de lá. Mas, em geral, a medicina não faz pessoas ficarem ricas, embora haja profissionais bem pagos.
Na sua experiência, bons médicos estão sendo treinados na Argentina?
– Sim. E um exemplo: o Reitor da Faculdade de La Sapienza, em Roma, esteve recentemente na UBA e ele me garantiu que hoje os médicos argentinos são muito mais bem treinados que os italianos, porque lá os estudantes não podem tocar em um paciente se não tiverem o título. Aqui, no entanto, eles já têm contato com os doentes durante o curso, o que é uma enorme vantagem.
EM RESUMO
A UBA não possui número de vagas pré-determinado, porém o CBC e os primeiros anos de curso, que são muito exigentes com o estudante, já servem como filtro para aqueles que são realmente determinados e querem de fato ser futuros médicos.
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